A data 01 de abril é sempre uma numeração eterna para as memórias de muitas pessoas de Campo Redondo e Santa Cruz. Os que vivenciaram o ano de 1981, abril começou com as águas do Rio Trairi causando o arrombamento de açudes em Campo Redondo e Santa Cruz.
Poeticamente, o saudoso Hugo Tavares Dutra trouxe isso com o toque genial do cordel na obra “Santa Cruz e o Chuá”, que reconta os relatos históricos da enchente que quase destruiu toda a cidade. Com a presença de várias autoridades civis, a sociedade santacruzense relembrou os 35 anos da enchente e festejou a obra de Hugo Tavares.
As águas de 81 retrocederam, Santa Cruz avançou. Hugo Tavares faz parte desta nova história reconstrução que a cidade viveu no final dos anos 80, nos anos 90 e nas últimas décadas.
A obra “Chuá” será uma forma de obter recursos para construção de um Memorial dedicado a Hugo Tavares, que será construído na sede da Rádio Comunitária Santa Rita.
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Venho por meio desse texto, relatar de forma breve a catástrofe de 1981, do memorável fato histórico da cidade de Campo Redondo/ RN. São relatos a partir de conhecimentos repassados pelos meus avós e conhecidos que vivenciaram esse momento de tragédia.
E tudo parecia normal naquele dia, o sol havia amanhecido sorrindo, os pássaros cantavam uma doce e singela sinfonia, nada demonstrava gestos de que uma catástrofe estava a caminho. Realmente, tudo encontrava-se estável, a esperança preenchia o coração daquele povo trabalhador, leal e digno. Um sentimento de prosperidade os alegrava, pois já sabiam que o período de inverno havia chegado, já que o trabalho no campo era a principal fonte de renda da época. Sendo assim, falar de cheia era sinônimo de fartura. Mas, jamais imaginavam que aquilo que antes trazia bonança, dessa vez viria como destruição. E assim aconteceu na tarde do dia primeiro de abril de 1981, na cidade de Campo Redondo/ RN. Os grandes nevoeiros aos poucos iam se formando, cobrindo o sol e ofuscando seu brilho, uma brisa de vento soprava lentamente, era uma verdadeira sensação de paz. E aquelas nuvens foram acumulando-se, e em questão de minutos começaram a banhar a tão saudosa Campo Redondo. Uma chuva considerada calma, sem relâmpagos e trovões, derramava forte, e assim seguiu durante horas. A noite aproximava-se, e o cenário era o mesmo, a água continuava sendo o autor principal daquele entardecer. Não demorou muito para que os moradores avistassem que o maior reservatório da localidade estava transbordando, o tão famoso açude nomeado (Mãe d´água), era uma cheia jamais antes vista. Isso já era motivo de alerta e uma certa sensação de pânico tomava conta daquele povo. Dominados pelo medo, foram evacuando de suas moradias e levando a alerta para os que ainda não tinham conhecimento da gravidade da tragédia que estava prestes a acontecer, em destaque as ligações para os municípios vizinhos. Porém, era difícil de acreditar, já que esse desastre estava se passando numa data denominada como o dia da mentira, e por esse motivo a desgraça só tendia a crescer. Assim como as gotas de chuva molhava a terra, as lágrimas lavavam seus rostos, pois estavam convictos de que em questão de minutos, aquilo que com esforços de anos foi construído seria tomado por água em segundos, um verdadeiro terror. As suspeitas se confirmaram, em instantes um barulho assombroso ecoou, e como esperado daqueles últimos momentos, a parede do reservatório se rompeu pela força da água e ligeiramente ia invadindo as imediações. Correria, gritos e clamor tomou conta dali, era um desespero em prol da vida. A escuridão dominou, e essa era mais uma complicação a ser vencida, parecia realmente ser o fim. O alagamento alastrava-se, e a cruz da capela de Nossa Senhora de Lourdes foi o marco a ser atingido por quase todos, já que lá era um dos pontos mais altos, o lugar onde essa cheia não alcançaria. Assim seguia, patriarcas tentando salvar sua família, estendo a mão ao próximo, pois o lema desse povo sempre foi serenidade e humildade no coração. Era aterrorizante, parecia ser um pesado, ou melhor, um filme de terror. A agonia estendeu-se durante horas, e o resto daquela noite foi apenas clamor e tristeza. Ao amanhecer do dia 02, a cena que notava-se era horrenda, grande parte da cidade voltou a ser apenas um espeço de terra vazio, totalmente coberto pela lama e vestígios que sobraram do que era composta Campo Redondo. A alma ficou dominada pela angústia e dor, tanto pela destruição, quanto pelas pessoas que perderam a vida nisso, não só da localidade, como também das povoações vizinhas, em destaque Santa Cruz, que foi atingida em grande proporção, onde a paisagem deixada pela força da água era de desesperador. O silêncio predominava, todos encontravam-se extasiados, sem forças para coisa alguma. O sol havia voltado a sorrir, mais o espírito permanecia na escuridão da aflição. Ao longo dos dias, as ajudas foram chegando, todos em prol de uma reconstrução, e em acolhimento para aquelas famílias que ficaram desprovidas de amparo. Por dias, moraram em baixo de tendas feitas de lona e troncos de árvores, necessitavam encarecidamente de ajuda. Mas, populações vizinhas, autoridades e os próprios moradores que não foram atingidos da mesma maneira, não mediam esforços e estendia a mão a todos os momentos a estes. Se passaram meses, novamente iniciou aquele processo de construção, e vagarosamente o município ganhava roupagem nova, tudo que amenizasse a lembrança desse dia doloroso. Hoje, tornou-se uma cidade desenvolvida graças ao pai celestial, uma nova Campo Redondo. A estrutura mudou, mas os corações caridosos permaneceram e encontram-se na mesma maneira. Uma localidade pequena, mas repleta de grandes histórias, por trás de tanta beleza, houve uma grande trajetória de dor, que tornou-se um marco que jamais será apagado de nossas memórias. Após 36 anos, as lembranças permanecem intactas.
Por Kennedy Andersson
VERSOS SOBRE O AÇUDE MÃE D’ÁGUA
36 anos - “1º de abril de 1981”
No ano de 1981
Grande fato aconteceu,
No dia 1º de abril veja só o que se deu.
Às 7 horas da noite
O Açude Mãe D’água tremeu.
Quando o açude estourou
Foi a maior confusão,
A água toda indo embora
causando muita destruição,
E o povo uns gritavam,
outros choravam,
E outros pediam perdão.
O poço da caibeira
Também causou confusão,
Arrancando o trapiá
Igualmente um furacão,
Jogando a ponte pra fora
E deixando somente o chão.
Ligaram pra Santa Cruz,
Na mesma situação,
O açude Santa Rita
Não aguentou a pressão
Levando a água fora
E causando a destruição.
Eu nasci e me criei
Ali naquele lugar
Todo dia eu ia lá pra pescar,
Pescando minha traira
Pra fazer o meu jantar.
Agora nesse momento
Eu quero falar também,
De meu amigo George
Que é um homem do bem,
E é um grande locutor
E um poeta também!
Peço que leia meus versos,
Pra todo mundo escutar,
Não quero fazer sucesso,
Apenas quero falar:
Pra o prefeito dessa cidade
E o povo desse lugar.
Vou pedir a Deus do céu
Pra ele me ajudar,
Me dando força e coragem,
Pra minha história eu contar,
Um abraço aos meus amigos
E para todos deste lugar.
Autor Antônio de Lô
Conjunto Margarida Procópio
RELATO DO TRÁGICO DIA 1º DE ABRIL DE 1981 PELA PROFESSORA DARQUINHA
Lembro-me com tristeza no coração desse dia 01 de Abril/1981.Meus pais morava na nossa amada Maravilha, o Senhor José Orestes Cortez convidou meu pai Ozair para morar em Santa Cruz e tomar conta do seu armazém que vendia madeira vindo do Maranhão. Estávamos jantando quando o saudoso Monsenhor Padre Raimundo começou a avisar para as famílias que o açude de Campo Redondo estava em perigo e que todos tomassem cuidado. Saímos de casa, tentamos voltar já não podemos mais, pois a água já entrava pela porta da sala....Foi um dos momentos difíceis em nossas vidas. Meu pai começou a ajudar as pessoas. Também recordo dos amigos Marizete e Dedé seu esposo(grandes amigos)dos meus pais. O telefone não funcionava, papai preocupado com seus pais que estavam em Campo Redondo. Noite de terror. Roupas não tínhamos(só a do corpo). Fomos a Campo Redondo, quase não dava para ver a estrada com tanta chuva. O rádio sempre ligado, procurando ouvir noticias de todos e principalmente das nossas famílias. Em Santa Cruz meus pais tiveram ajuda do saudoso Lourenço e sua esposa quando voltaram para ver como tinha ficado a casa. O único objeto salvo foi uma boneca que estava em cima da cama. A partir da aquele dia voltamos a morar em Campo Redondo e depois para nossa amada Maravilha a onde retornamos para refazer nossas vidas.
Por Joana Darc de Vasconcelos Pacheco